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Rioprevidência não garante salários em dia até o fim de 2018; inativos temem atrasos

O sorriso fugiu do rosto da pensionista Maria da Glória Barboza Nascimento, conhecida como Glorinha entre os vizinhos e amigos do bairro de Vista Alegre, onde mora na Zona Norte do Rio. O semblante de preocupação persegue a senhora que completou 65 anos na última quinta-feira. Para quem sofreu com os atrasos a partir de janeiro de 2016, a angustia mensal é recorrente até que o Estado confirma a data do pagamento de sua pensão.

— Que a gente tenha um final de ano digno, com nossos salários em dia e o 13º pagos corretamente. Temos medo todo mês com essa incerteza antes do anúncio da data do pagamento — disse.

A cada aproximação da data do pagamento, a suspeita ressurge, muito em função do silêncio do Estado até poucos dias do prazo para que o depósito seja feito em dia. Para a aposentada Elza Braz, da secretaria de Fazenda, o sonho é voltar a ter o dia a dia de antes da crise.

— Ninguém sabe como as coisas vão ficar no futuro. Queremos ter previsibilidade. Saber quando vamos receber. Queremos nossas vidas de volta. Vivemos um massacre — disse a aposentada, que chegou a ser detida pela polícia durante um dos protestos feitos pelos servidores.

Nos últimos meses, o Estado tem tentado equilibrar suas finanças. O maior reflexo é a manutenção dos salários em dia e o pagamento das dívidas anteriores. O presidente do Rioprevidência adverte, porém, que a crise está longe de passar.

— A gente vive um mês atrás do outro. Não tenho como garantir o pagamento de todos os servidores em dia até dezembro. É claro que faremos todos os esforços, mas a crise ainda não passou — afirmou Reges Moisés dos Santos.

Ele disse que a folha de pagamento mensal com aposentados e pensionistas custa R$ 1,4 bilhão e que as receitas com contribuições giram em torno de R$ 400 milhões, R$ 500 milhões. Com isso, todo mês há um déficit entre R$ 800 milhões a R$ 1 bilhão, que precisa ser coberto pelo Estado.

Doença crônica e síndrome do pânico viram sequelas

No caso da aposentada da secretaria de Fazenda Elza Braz os dois anos de crise a levaram a morar em um pensionato por mais de um ano, além do acúmulo de dívidas que a fizeram contratar um empréstimo consignado de R$ 90 mil. Para piorar, as sequelas dos protestos contras as medidas do governo e os atrasos salariais são sentidos até hoje.

— Fui diagnosticada com uma doença respiratória causada pelas bombas de gás lançadas pela polícia sobre os servidores. É difícil até falar sobre o que vivemos. Sem contar na Síndrome do Pânico diagnosticada no início deste ano — disse a aposentada.

Elza, por sinal, não vê melhoras na situação do Estado:

— Não temos mais salvação. Estamos desamparados. Não vejo melhora para o futuro.

Cestas básicas e doações ajudaram durante a crise

O drama da aposentada da secretaria de Educação Mariuza Conceição Aparecida, de 80 anos, ficou conhecido entre os servidores durante a doação de cestas básicas para o Natal de 2016. Ao não receber uma das cestas, Mariuza cantou jazz para os colegas, sendo convidada para shows e eventos como forma de ajudá-la a minimizar a falta dos salários:

— Não gosto nem de pensar como seria se não tivesse recebido as doações. Não desejo para ninguém. Nem para o governador.

Fazenda reforça esforço do Estado na busca por equilíbrio

Diante do temor de inativos e pensionistas, a secretaria de Fazenda reforçou o esforço que o Estado tem feito para equilibrar suas finanças. A pasta lembrou da adesão ao Regime de Recuperação Fiscal, com a aplicação de ações de aumento da receita e a diminuição de despesas.

O Rio aderiu ao Regime de Recuperação em setembro de 2017. Somente no início de 2018, o Estado começou a normalizar o pagamento dos servidores. Boa parte das dívidas foram equacionadas em abril, com a quitação do 13º salário de 2017. Para encerrar as pendências, o governo adotou medidas como a antecipação dos royalties do petróleo, a elevação da contribuição dos servidores à Previdência, além da antecipação de receita futura com a venda da Cedae.

Inativos enfrentaram 19 atrasos de folhas salariais

O Rio completou o 1º semestre de 2018 sem atrasar salários. A previsão é de que o vencimento de julho seja pago na terça-feira, dia 14, de acordo com o calendário previsto — até o 10º dia útil do mês seguinte ao trabalhado. O cenário, porém, foi bem diferente entre janeiro de 2016 e dezembro de 2017. Foram, ao todo, 19 atrasos salariais, num total de 26 folhas (incluindo os 13º salários). A situação fez com que muitos adiassem ou desistem de alguns projetos de vida.

— Eu tinha tudo programado para me mudar para Portugal. Boa parte da minha família está lá. Vendi minha casa em Paquetá e estava aguardando os últimos detalhes da documentação. Durante esse processo, o Estado começou a atrasar os meus salários. Não tive condições de me mudar — lamentou a ex-servidora da Fazenda estadual Elza Braz.

Já Dona Glorinha teve de lidar com o falecimento do filho em meio à crise. Ainda no primeiro semestre de 2016, ela ficou sem pensão e sem dinheiro para bancar o sepultamento.

— Contei com a ajuda de uma vizinha, que é uma irmã para mim. Ela me emprestou R$ 500. Sempre prometi pagar, mas os atrasos não permitiram. No final de 2016, ela me deu “de presente” o que usei — disse Glorinha.

O pior momento foi em meados de 2017, quando o Estado atrasou três folhas seguidas: maio, junho e julho.

FONTE: EXTRA.GLOBO.COM

 

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