Mesmo sem paciente, hospital do Maracanã gera despesa de R$ 10,5 milhões ao estado
Mas fornecedores de equipamentos e infraestrutura e funcionários dos hospitais estão com pagamentos atrasados
Mesmo sem pacientes, o Hospital de Campanha do Maracanã opera com 15 profissionais de saúde por turno. Eles firmaram contrato com a Fundação Saúde, no fim de julho, no modelo RPA, sem vínculo empregatício. Técnicos de enfermagem ouvidos pelo DIA dizem que os pagamentos estão acontecendo, porém parte deles, que já atuavam na unidade desde o início de maio, alegam que não receberam por 15 dias de trabalho em julho, adicional noturno e de insalubridade e pela rescisão do contrato com a Iabas.
“E quando ainda pagavam era uma confusão: uns recebiam a mais e outros a menos do valor contratual. Tinha gente que recebia passagem, outros não… Enfim, era uma bagunça, não tinha lógica”, disse uma técnica de enfermagem, que não quis se identificar.
Proprietário da empresa Memo Serviço Móvel Especializado em Saúde, Gláucio Oliveira Dias forneceu tomógrafos para os hospitais de campanha do Rio. Ele conta que mantém duas salas de tomografia no Hospital de Campanha do Maracanã. E que, na última semana, retirou tomógrafos das unidades de Caxias e Nova Iguaçu com medo de furto.
“Tive um computador e placas de chumbo dos equipamentos de tomografia furtados nos hospitais de Caxias e São Gonçalo. Isso porque os vigilantes deixaram o serviço diante da falta de pagamento”, diz Gláucio, que estima uma dívida pelo aluguel de equipamentos e manutenção da ordem de R$ 6 milhões:
“Se eu não receber esse dinheiro, terei que fechar a empresa. Já tive que demitir 120 funcionários. O Iabas e o governo do estado estão destruindo nossas empresas”.
Os hospitais de Caxias e Nova Iguaçu, que ficaram prontos mas não receberam nenhum paciente, estão sendo desmontados. Fotos da área interna desta terça-feira mostram amplos espaços vazios, com equipamentos empilhados e sujeira.
Secretaria de Estado de Saúde (SES) afirma que os R$ 10,5 milhões mensais para manter o Hospital de Campanha do Maracanã em funcionamento são divididos da seguinte forma: R$ 2,75 milhões para o pagamento de equipes assistenciais e R$ 7,7 milhões para serviços de manutenção – embora os fornecedores, que também são responsáveis pela manutenção, afirmam não estarem recebendo.
Sobre os salários atrasados de vigilantes e agentes de limpeza, a SES diz que a relação trabalhista deles é com a Iabas, “embora esteja aberta a tentar buscar solução jurídica para esses casos”, afirma a nota da secretaria.
Em relação aos profissionais que trabalharam nos hospitais do Maracanã e de São Gonçalo contratados por CLT, a pasta afirma que repassou ao Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região (TRT-1) a verba para o pagamento dos salários diretamente aos trabalhadores, sem passar pela conta do Iabas. “Os pagamentos estão sendo realizados via Centro Judiciário de Métodos Consensuais de Soluções de Disputas (Cejusc), do TRT da 1ª Região”, diz a nota da SES.
Já no caso dos fornecedores, a pasta afirma que o contrato que firmou com a Iabas, responsável pela subcontratação das empresas, está judicializado e apenas a Justiça poderá determinar se a organização social ainda tem algo a receber pelos serviços prestados ou se, por outro lado, deverá devolver dinheiro ao governo do estado. Segundo a SES, foram repassados ao Iabas R$ 256 milhões.
A secretaria disse, ainda, que somente o pagamento dos serviços que continuaram sendo prestados após a Fundação Saúde assumir a administração dos hospitais do Maracanã e de São Gonçalo, em 18 de julho, são de responsabilidade da Fundação Saúde. Mas não respondeu à afirmação dos empresários de não terem sido pagos pelo período entre 18 de julho e 18 de agosto.
Também procurada pela reportagem, a Iabas afirma que pagou os serviços de fornecedores e funcionários referentes ao mês de maio. E que, com a intervenção decretada pelo governo do estado no dia 2 de junho, todos os pagamentos passaram a ser de responsabilidade da Fundação Saúde.
FONTE: O DIA online