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Pesadelo que vive funcionalismo do estado parece que não tem fim

Rio – Um pesadelo. É assim que servidores do estado classificam a forma como estão vivendo em meio a atrasos e parcelamentos de salários desde o ano passado. Ontem, 207 mil ativos, inativos e pensionistas receberam apenas R$ 700 referentes a abril. E não há ainda previsão de quando os vencimentos serão quitados e nem sobre o pagamento de maio.

A solução, segundo o governo, é o Plano de Recuperação Fiscal, que suspenderá o pagamento de dívidas do Rio com a União por três anos. Mas enquanto o acordo não fecha, a angústia do funcionalismo só aumenta.

Há sete anos no estado, a técnica em Enfermagem da Policlínica Piquet Carneiro, Daniela Dias, 39 anos, fez concurso público em busca de estabilidade. Casada e mãe de Ana Beatriz, 6 anos, e Rafael, 8, hoje, a servidora sofre a cada mês com a imprevisibilidade do pagamento do salário: ela sustenta os filhos.

“Cheguei a me mudar para perto do trabalho e a sair de uma clínica particular para ser exclusiva do estado. Hoje, vivo sem saber de onde vou tirar tirar dinheiro. Busco a mínima dignidade de poder pagar o sustento dos meus filhos”, declarou a servidora, ao lado do pai, o aposentado Geraldo Dias, 76.

“Também trabalho em uma unidade federal de saúde. É o que está amenizando a minha situação e da minha família”, completou.  Também vítima da crise do estado, o professor de Química da Faetec, Paulo Coelho, 65, lamenta: “Tenho mais de 35 anos de magistério trabalhando de sol a sol. Busquei o máximo de conhecimento profissional e, na Faetec, desenvolvo um trabalho sério aos trancos e barrancos. Quando a gente pensa que vai ter o salário, que já está atrasado, recebo R$ 700 do que tenho direito”.

Ele também é químico da Vigilância Sanitária do estado e diz que sobrevive com a auxílio da família: “Meus irmãos ajudam com o essencial. Outro dia eu não tinha dinheiro para o leite da minha filha… Tive que cancelar meu plano de saúde e vou ter que arcar com multa. Não vejo uma luz no fim do túnel. Não há uma saída para esse problema”.

A professora aposentada Ieda Ribeiro, 72, precisa arcar com os custos dos medicamentos que toma diariamente. Ela tem uma neta adotiva e foi obrigada a tirá-la da escola particular desde que a crise do estado estourou.

“Coloquei ela numa escola pública de referência, mas não é perto de casa. O pouco dinheiro que entra uso para pagar a condução escolar dela, meus remédios e os do meu marido”, contou Ieda, acrescentando que a aposentadoria do INSS do marido Francisco cobre apenas algumas despesas, mas não é suficiente.

Paixão e única fonte de renda

A farmacêutica industrial da Secretaria de Saúde, Rogéria Carvalho, 47, está no estado desde 2004, e tem neste trabalho sua única fonte de renda. “Fiz concurso com muito amor para a Vigilância Sanitária. Sempre fui apaixonada pelo meu trabalho, e ainda sou. Tenho um filho de 11 anos na escola particular e eu que pago todos os gastos relacionados a ele”, relatou ela, que acrescentou:  “É um desespero para fechar as contas a cada mês. Não consigo entender como o estado chegou a essa ponto e que não há arrecadação suficiente para poder pagar o funcionalismo. Estão maltratando muito o servidor estadual”, criticou a farmacêutica.

Inspetor da Escola Técnica Estadual João Luiz do Nascimento, da Faetec, Marcos Gomes, 59, precisa contar com o auxílio de sua mãe para quitar pagamentos e custos com a saúde de um dos seus filhos.

“Ele demanda mais cuidados, pois sofre de síndrome de patau (doença genética que afeta o sistema nervoso, entre outros sintomas) e todo mês preciso comprar medicação para ele. Semana passada tive que gastar só R$ 400 de comprimidos. Não tenho conseguido arcar com os gastos”, queixou-se.

Em nota, a Secretaria Estadual de Fazenda informou que, logo após a publicação da sanção do Regime de Recuperação Fiscal, no Diário Oficial da União, em 22 de maio, “o governo do Estado do Rio iniciou imediatamente as conversas com o governo federal para a homologação do plano estadual”.

A pasta completou alegando que “a expectativa é que essas conversas evoluam satisfatoriamente, visando à estabilidade financeira do Estado, assim como a regularização dos salários dos servidores públicos estaduais o mais rapidamente possível”.

Fonte: O DIA online

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