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Fraudes na área da saúde causaram prejuízo de quase R$ 700 milhões ao Rio, dizem investigações

Fraudes na área da saúde causaram prejuízo de quase R$ 700 milhões ao Rio, dizem investigações


“Se a gente não morrer de Covid-19, vai morrer por falta de caráter dos nossos políticos. Já era previsto que autoridades e empresários iriam se valer dessa pandemia para roubar ainda mais a população”. A fala indignada é do vigilante Cleber Eurípedes Pereira, de 41 anos, que estava ontem com a sogra, de 69, infectada pelo coronavírus e precisando de um leito em UTI, ao comentar a prisão de empresários e ex-políticos na Operação Favorito, desencadeada pela Lava-Jato do Rio. As investigações referem-se a desvios em contratos na área da saúde envolvendo organizações sociais e hospitais de campanha que estão sendo montados para receber pacientes com Covid-19.

De acordo com a Polícia Federal, o Ministério Público fluminense e o Ministério Público Federal, o empresário Mário Peixoto e outros empresários, incluindo o ex-presidente da Assembleia Legislativa Paulo Melo, vinham planejando e explorando esquemas de superfaturamento relacionados a compras e serviços contratados em caráter emergencial na área de saúde. Segundo denúncias de promotores, os fraudadores teriam causado prejuízo de quase R$ 700 milhões aos cofres públicos nos últimos oito anos.

A Lava-Jato começou a investigar negócios feitos pelo grupo a partir de 2012, na época do governo Sérgio Cabral. Peixoto, que foi preso numa mansão em Angra dos Reis, seria o chefe de um esquema que abrangeria cerca de cem pessoas físicas e jurídicas, formado para obter contratos com Organizações Sociais (OSs) selecionadas para administrar Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Com o governo Wilson Witzel, os acusados assinaram R$ 120 milhões em contratos desde o ano passado.

Investigadores descobriram que pessoas ligadas a Peixoto tiveram acesso a planilhas que detalhavam como deveriam ser gastos os R$ 876,4 milhões destinados à montagem e ao funcionamento de sete hospitais de campanha. A suspeita é que o grupo se beneficiaria com serviços superfaturados prestados à Iabas, OS escolhida para erguer e administrar as unidades.

Os suspeitos pagaram propina a conselheiros (hoje afastados) do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e políticos, com o objetivo de manter a OS Instituto Data Rio (IDR) na gestão de pelo menos dez UPAs. Para administrar essas unidades, a OS recebeu R$ 182,7 milhões ao longo de sete anos, e promotores acusam Peixoto de ser o controlador do IDR.

Casamento em castelo

A relação de Peixoto com o governo do estado veio à tona em 2014. Na época, foi revelado que ele e suas empresas tinham R$ 480 milhões em contratos, alguns sem licitação. Ele teria enriquecido durante os governos de Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão.

Em maio de 2014, Peixoto se casou num castelo na Itália. A cerimônia foi no jardim do castelo e teve 50 convidados. Entre eles, Pezão, Paulo Melo, também preso ontem, e Picciani. Os dois últimos, por sinal, foram padrinhos do noivo.

A Operação Favorito cumpriu mandados de prisão e de busca e apreensão contra o grupo acusado de desviar R$ 3,95 milhões dos recursos públicos da saúde.

Além de Melo e Peixoto, foram presos Luiz Roberto Martins, Lisle Rachel de Monroe Carvalho, Carla dos Santos Braga, Leandro Braga de Souza e Luciano Leandro Demarchi. Ao todo, foram apreendidos R$ 2 milhões na operação. Na casa de um dos alvos, em Valença, a PF encontrou R$ 1,5 milhão em espécie, e o suspeito foi preso em flagrante por posse ilegal de arma de fogo.

O filho do empresário, Vinícius Peixoto, também foi alvo de ordem de prisão preventiva. E dois irmãos de Mário Peixoto, Marco Antônio e Marcio Peixoto, foram convocados a prestar depoimento.

Leitos ociosos

Os hospitais de campanha do governo do estado já deveriam estar prontos e funcionando. No entanto, apenas três (o do Maracanã e outros com operação da iniciativa privada, no Leblon e na Barra) estão recebendo pacientes — além do que fica no Riocentro, erguido pela Prefeitura do Rio. Ontem, na soma das quatro unidades, havia 253 leitos ociosos. Ao mesmo tempo, quase mil pessoas com Covid-19 ou suspeita estavam à espera de leitos de UTI e enfermarias no estado.

Os outros hospitais de campanha do estado serão abertos em São Gonçalo (com previsão de inauguração em 17 de maio), Nova Iguaçu (previsto para abrir no dia 19), Nova Friburgo (dia 21), Campos (23), Duque de Caxias (24) e Casimiro de Abreu (26 de maio).

O nome da operação tem relação com o número de contratos e o tempo de relacionamento de Peixoto com a administração pública, ou seja, vários anos sendo o “favorito”.

Pagamentos são suspensos

Por meio de advogados, Peixoto e Paulo Melo criticaram a Operação Favorito e garantiram inocência. Representantes dos outros citados na reportagem não foram localizados.

Em nota, o Palácio Guanabara informou que a Controladoria Geral e a Procuradoria Geral do Estado do Rio solicitaram à Justiça Federal informações sobre empresas e pessoas envolvidas na Operação Favorito para analisar todas as suspeições levantadas por promotores. Enquanto durar a auditoria, todos os pagamentos a fornecedores estarão suspensos. O governador Wilson Witzel afirmou apoiar as investigações e disse ser inadmissível que pessoas queiram cometer crimes durante a pandemia.

A Iabas, também, em nota, afirmou rejeitar toda e qualquer acusação de corrupção e frisou que seu contrato com o estado é absolutamente legal. A OS também destacou que não mantém qualquer relação com Mario Peixoto.

FONTE: EXTRA.GLOBO.COM

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